Histórias de um NÃO
I
"Era uma vez, assim começam todas as histórias, NÃO é?... uma jovem rapariga que teria por volta de 22, 23 anos. Bonita. Roliça. Vaidosa. Olhos azuis da cor do céu e cabelo loiro da cor da mais vasta ceara. Uma rapariga que por onde passava NÃO deixava ninguém indiferente.Carlota (vamos chama-la assim) como qualquer rapariga tinha vários sonhos e desejos. Mas um destacava-se dos outros todos. Queria ser mãe. Mas não uma mãe qualquer. Mãe da mais bela rapariga do mundo. Pensava como seria belo ensinar a sua filha a brincar com as bonecas e quando ela fosse mais velha iriam as duas a qualquer loja de roupa. Haviam de ir a Paris, a Milão ou a Madrid a desfiles de moda. Andariam sempre juntas. Inseparáveis.
Para concretizar este seu sonho, em primeira mão, teria de arranjar homem. E acreditem, pretendentes não faltavam. Mas ela pensava sempre «n'aquele». De preferência de olhos verdes, para que a sua filha também os pudesse ter.
Carlota começou assim esta impresa, que inicialmente parecia fácil - tal era a sua beleza, mas revelou-se complicada - tal era a sua esquesitisse. Mas passado algum tempo lá apareceu o «seu» homem, o pai de sua futura filha.
Depois de um namoro curto, mas bem sucessido, veio o casamento e a boda e com eles a lua de mel. Tudo como planeado. Bora Bora foi o destino da lua de mel, e surgiu assim a primeira oportunidade para Carlota concretizar o seu maior sonho, ser mãe de uma menina. Depois de uma louca noite de amor e depois de 4 semanas sem o periodo, pensou: «estarei grávida?». Este pensamento invadiu-lhe o coração como se fosse a suprema alegria. Correu à farmácia mais próxima e comprou um daqueles testes descartáveis. Fez o teste. Não havia engano estava mesmo grávida. Novamente passou-lhe pela cabeça a imagem da sua -já- filha passear nas ruas de Milão a verem roupas juntas. Era a mulher mais feliz do mundo.
Não demorou a contar a toda a gente o seu estado físico... trazia uma filha dentro de si!!!
Sua mãe preocupada como todas as mães lá lhe aconselhou o melhor obstetra que conhecia. Era formidável.
E assim foi... Passaram pela clinica e marcaram a primeira consulta, que só poderia ser daí a três semanas dada a impossibilidade do médico.
Lá regressou a casa contente mas ansiosa pela consulta para poder ver a sua -já- filha. A sua ânsia aumentava de dia para dia e para a acalmar passeava pelos centro comerciais e aproveitava para compra roupa para a sua filhinha. Cor-de-rosa.
O dia da consulta lá chegou, agora um nervoso miudinho percorria-lhe o corpo... ia poder ver a sua filha pela 1ª vez. Bem agarradinha ao marido lá entrou no consultório do Dr. Toupaquius (era grego, mas mesmo muito bom). Este ao fazer a ecografia apontou para o monitor onde se via na perfeição o interior da barriga de Carlota, exclamou: « aqui está o seu filho». Carlota gelou. Mas pensou, ou o médico se enganou (não seria ele tão bom como a fama que trazia), ou então como se usa sempre o masculino para nominar, ele teria dito filho mas de ceteza que era filha. Mas o médico voltou a replicar: « olhe, olhe bem, olhe o seu lindo filho, é perfeito...»
Carlota não queria acreditar nas palavras do médico, fechou os olhos e já sem entusiasmo exclamou «sim já vi». Ao sair do consultório pensava desanimada: «tanto trabalho para ter uma filha perfeita foi-me sair um filho» vociferando contra tudo e contra todos e dizendo mal da vida e da sorte.
A semana seguinte (até ao dia da próxima consulta) foi de tristeza e de desilusão, não obstante as palavras carinhosas do marido: «ser menina ou menino não importa, importa é que seja perfeito», mas ela não ouvia, queria uma menina e pronto.
O coração de Carlota enchia-se de ódio e de egoísmo e agora só uma coisa lhe vinha à cabeça ABORTAR, apesar do marido ser contra. Carlota sentia que o seu sonho tinha passado a pesadelo. Á 8ª semana de gestação, na 2ª consulta, quando o seu filho já era grande, já se via o seu corpo perfeito, o seu coração já batia, Carlota estava já decidida. «Irei ABORTAR» , tanto neste país pode-se abortar livremente e em qualquer circunstância até à 10 semana, bastando só a sua vontade.
À 9ª semana de gestação quando o filho que trazia no ventre já estava praticamente todo formado... FOI MORTO!
Se se liberalizar o ABORTO esta história poderá tornar-se REALIDADE.
Bastará um infimo pormenor para se matar uma vida.
NÃO deixemos que isto aconteça.